Depois do autoritarismo explícito da Prefeitura do Rio de Janeiro, que
adotou a pintura padronizada nos moldes abertamente ditatoriais de
Curitiba e São Paulo, outras prefeituras tentam camuflar a
arbitrariedade com paliativos feitos tão somente para enganar a
população.
É o caso de Niterói, em que a prefeitura vetou o direito de cada empresa
de ônibus apresentar sua própria identidade, mas permitiu que coisas
pequenas e que de longe são imperceptíveis, como colocar nome de empresa
de ônibus em janelas ou letreiros digitais e "personalizar" placas de
itinerários de linhas (algumas mais ilegíveis que bulas de remédios).
Além da antiga capital fluminense, São Gonçalo adotou a medida,
paliativa e inútil, de exibir o logotipo de cada empresa nas laterais e
janelas dos ônibus, algo que não se resolve de forma alguma o problema
da confusão, uma vez que, vistos de longe, os logotipos não passam de
meros rabiscos aleatórios.
EM SÃO GONÇALO, LOGOTIPOS DE EMPRESAS EXPOSTOS NA PINTURA PADRONIZADA
SÃO MEROS "RABISCOS" QUANDO VISTOS DE LONGE E NÃO RESOLVEM O PROBLEMA
DA CONFUSÃO PELOS PASSAGEIROS COMUNS.
É como, por exemplo, um motorista colocar na janela dianteira logotipos
de revendedoras de chassis ou frases religiosas, algo que, em outros
tempos, era usado nos ônibus de todo o país. São coisas pequenas,
imperceptíveis.
AUTORITARISMO "DEMOCRÁTICO" E "INTERATIVO"
Agora o aspecto mais ridículo foi adotado pela Prefeitura de Araruama,
que, para disfarçar o natural autoritarismo da pintura padronizada,
lançou uma campanha "interativa" para os cidadãos "escolherem" a pintura
padronizada a ser adotada, em três modelos em que os "bastões"
colocados sobre as janelas laterais dianteiras são influenciados pela
"estética" carioca.
É como rir da cara das pessoas e tratar o passageiro comum como se fosse
otário. Imagine se a moda pega e a Prefeitura do Rio de Janeiro lança
uma enquete para os internautas escolherem qual o melhor tempero para o
gás de pimenta a ser atirado nos olhos dos manifestantes que nos últimos
meses fazem intensos protestos contra a politicagem dominante no
Estado?
Provavelmente, a Prefeitura de Araruama também fará seus paliativos,
colocando nome de empresa em janelas ou letreiros digitais, como se isso
fosse resolver os problemas da confusão ou garantisse mais
transparência na medida da pintura padronizada. A experiência mostra que
tais paliativos em nada resolvem em relação a tais problemas.
EMPURRANDO AÇÕES JUDICIAIS COM A BARRIGA
Já existem ações judiciais contra a pintura padronizada nos ônibus. No
Rio de Janeiro e em Niterói, haviam sido lançadas ações no Ministério
Público contra a pintura padronizada, que no entanto foram contestadas
pelas autoridades através de argumentos inconvincentes.
No Rio de Janeiro, a desculpa utilizada foi o "reordenamento do
transporte" e que a identificação dos ônibus se daria através do código
numérico de cada veículo, essa "sopa de letras e números" que confunde e
desnorteia os passageiros já em seus muitos compromissos pessoais.
Em Niterói, a desculpa, que também cita o "reordenamento do transporte",
já dá ênfase ao "desvínculo de imagens das empresas" e a identificação
por "zonas", embora não fizesse menção aos paliativos de exibir nomes de
empresas em janelas ou letreiros ou na personificação das placas de
itinerários.
As autoridades adotam desculpas inconvincentes, que no entanto são
acatadas pelos advogados do Ministério Público. O grande problema é que a
pintura padronizada está relacionada com a corrupção nas empresas de
ônibus, favorecidas pelo fato de que empresas diferentes estão agora com
o mesmo visual.
Chegou-se a haver uma CPI dos Ônibus no Rio de Janeiro, mas ela foi
sabotada por aqueles que eram contra a comissão e estavam ligados não só
ao grupo político de Eduardo Paes e Sérgio Cabral Filho, mas também a
grupos milicianos. Em Niterói, a CPI continua, mas parece rumar também
para uma postura "chapa-branca" mais sutil que a da CPI carioca.
INDIGNAÇÃO - Nas ruas, a população começa a expressar sua revolta contra
a pintura padronizada. Nas redes sociais, na realidade das ruas, nas
faculdades, as pessoas já desconfiam da medida, vendo nela uma forma de
acobertar a corrupção das empresas de ônibus e de ludibriar a população.
Mesmo a aquisição de ônibus especializados - como BRTs, articulados ou
com ar condicionado - ou demagógicos congelamentos ou reduções de
passagens consegue convencer. As autoridades que defendem a pintura
padronizada também não enganam com a postura de pretenso paternalismo,
tentando parecer boazinhas com a população.
A pintura padronizada, portanto, torna-se uma medida impopular, ineficaz
e inútil, além de ser prejudicial para aquele que é o maior interessado
do transporte coletivo: o passageiro comum, que pega ônibus todo dia e
sabe que pintar diferentes empresas de ônibus não vai resolver os
problemas vividos diariamente no sistema.
Afinal, ninguém em sã consciência vai tratar carimbos de prefeitura como
"santos milagreiros" da mobilidade urbana. O povo sabe que a pintura
padronizada não passa de um mero véu para acobertar a corrupção
político-empresarial que faz agravar as conhecidas irregularidades dos
sistemas de ônibus das grandes cidades.
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