No Brasil, é mania consagrar ideias ruins e descartar as boas ideias.
Infelizmente,
na sociedade brasileira, ideias ruins são consideradas bem sucedidas
pelo simples fato de estarem durando por muito tempo, como se apenas a
durabilidade servisse como atestado de qualidade.
Além
da durabilidade, a adesão maciça de várias pessoas e/ou instituições
também é considerada como atestado, já que enfiamos em nossas cabeças
que se todo mundo segue algo, é porque deve ser bom. O que já é mais do
que comprovado que NÃO é verdade.
Depois
que o Rio de Janeiro, estado que se auto-considera capital cultural do
país (e por isso é a localidade brasileira mais famosa pelo mundo) e por
isso influente para o resto do país, implantou a padronização visual,
já rotineira em estados como São Paulo e Paraná, todo o país entendeu
que as frotas municipais e metropolitanas de ônibus tem que usar
pinturas impostas pelas prefeituras, como uma espécie de farda a ser
colocada nos ônibus.
Apesar
das brechas nas leis permitirem, essa medida descaracteriza a
licitação, a condição de concessão inerente ao serviço de transportes e
fere o interesse público, já que a população fica privada de identificar
com rapidez as operadoras que fazem o serviço de ônibus.
A
única vantagem da padronização é do interesse das autoridades, que veem
na pintura padronizada uma forma de dizer "esse ônibus trabalha para a
prefeitura". O papo de que "organiza" e que "facilita a identificação" é
conversa de político desonesto, muito mais interessado em satisfazer os
próprios anseios. Para a população, não existe vantagem em colocar
farda em ônibus.
A
população vai ter que aumentar o nível de atenção ao pegar seus ônibus.
Infelizmente, muitas empresas não se preocupam em identificar com
clareza as bandeiras laterais e traseiras, obrigando ao passageiro a ir
para a frente dos ônibus para identificá-lo. A pintura diversificada por
empresa facilitava ao passageiro a identificar, compensando essa falha.
Além
disso, a população fica refém das prefeituras, já que terá que recorrer
a ela como forma de tentar melhorar o transporte, denunciando as
irregularidades que somente ela (e não a prefeitura) vê em seu
cotidiano.
A
relação cliente-empresa fica prejudicada pela transformação da
prefeitura em intermediário, já que a padronização, como uma encampação
enrustida, transforma as empresas em empregados da prefeitura. Ou seja, a
melhora do transporte terá que depender do interesse de prefeitos e
secretários de transporte, normalmente envolvidos com interesses
pessoais do que públicos. A prática mostra que sistemas padronizados há
piora na qualidade do serviço, conhecida apenas de quem utiliza do
transporte em cada cidade.
O
sistema do Rio de Janeiro piorou muito após a padronização. As
empresas, por entender que as frotas pertencem a prefeitura (a imposição
de pintura deixa isso claro), já não fazem mais a manutenção adequada,
que é cara, preferindo apenas "apertar os parafusos" e alimentar com
combustível para que os carros rodem. O resto que as prefeituras paguem.
Outras
capitais que utilizam a pintura padronizada são campeãs de queixas dos
usuários, incluindo o "imaculado" sistema de Curitiba (de onde surgiu a
ideia da pintura padronizada, em um longínquo 1974 - enfim uma ideia
VELHA vendida como "novidade"), cujos defeitos só são conhecidos por
quem mora por lá. Sistemas padronizados agem como cidades interioranas,
onde a prefeitura gerencia diretamente o transporte, com grande
precariedade. É uma forma de encampação sim, com a diferença de que o
sustento financeiro vem da iniciativa privada.
O
pessoal de Salvador que se prepare. O transporte, que já não era dos
melhores, vai ter uma boa piorada. Com um secretário de transportes de
mentalidade arcaica (José Aleluia, um dos políticos mais conservadores
da Bahia) e sem o engajamento necessário para administrá-lo, não
esperemos melhoras. E a população, acostumada a encontrar um transporte
ruim que nunca cumpre o mínimo necessário, vai ficar com a, pior fatia
de bolo, sendo a única a perceber que a colocação do nome da prefeitura
nos ônibus em nada ajuda a melhorar o transporte, seja de qual cidade
for.
EM TEMPO:
Houve uma tentativa de padronização pelo que se observa na foto que
ilustra esta postagem, com a extinta empresa Sul América. Na verdade, a
padronização vem sido ensaiada há uns 10 anos, com a chamada
"padronização branca", onde há grande maioria das empresas que dispensam
a pintura se limitando a colocar uma logomarca para identificar. Se
isso já atrapalhava, imagine o que virá agora.
Não bastasse aquela "michaeljequização" visual que homenageava o rei do pop (e também, é claro, da vitiligo)...
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