domingo, 10 de novembro de 2013

SALVADOR ADERE A PADRONIZAÇÃO VISUAL

No Brasil, é mania consagrar ideias ruins e descartar as boas ideias.

Infelizmente, na sociedade brasileira, ideias ruins são consideradas bem sucedidas pelo simples fato de estarem durando por muito tempo, como se apenas a durabilidade servisse como atestado de qualidade.

Além da durabilidade, a adesão maciça de várias pessoas e/ou instituições também é considerada como atestado, já que enfiamos em nossas cabeças que se todo mundo segue algo, é porque deve ser bom. O que já é mais do que comprovado que NÃO é verdade.

Depois que o Rio de Janeiro, estado que se auto-considera capital cultural do país (e por isso é a localidade brasileira mais famosa pelo mundo) e por isso influente para o resto do país, implantou a padronização visual, já rotineira em estados como São Paulo e Paraná, todo o país entendeu que as frotas municipais e metropolitanas de ônibus tem que usar pinturas impostas pelas prefeituras, como uma espécie de farda a ser colocada nos ônibus.

Apesar das brechas nas leis permitirem, essa medida descaracteriza a licitação, a condição de concessão inerente ao serviço de transportes e fere o interesse público, já que a população fica privada de identificar com rapidez as operadoras que fazem o serviço de ônibus.

A única vantagem da padronização é do interesse das autoridades, que veem na pintura padronizada uma forma de dizer "esse ônibus trabalha para a prefeitura". O papo de que "organiza" e que "facilita a identificação" é conversa de político desonesto, muito mais interessado em satisfazer os próprios anseios. Para a população, não existe vantagem em colocar farda em ônibus.

A população vai ter que aumentar o nível de atenção ao pegar seus ônibus. Infelizmente, muitas empresas não se preocupam em identificar com clareza as bandeiras laterais e traseiras, obrigando ao passageiro a ir para a frente dos ônibus para identificá-lo. A pintura diversificada por empresa facilitava ao passageiro a identificar, compensando essa falha.

Além disso, a população fica refém das prefeituras, já que terá que recorrer a ela como forma de tentar melhorar o transporte, denunciando as irregularidades que somente ela (e não a prefeitura) vê em seu cotidiano. 

A relação cliente-empresa fica prejudicada pela transformação da prefeitura em intermediário, já que a padronização, como uma encampação enrustida, transforma as empresas em empregados da prefeitura. Ou seja, a melhora do transporte terá que depender do interesse de prefeitos e secretários de transporte, normalmente envolvidos com interesses pessoais do que públicos. A prática mostra que sistemas padronizados há piora na qualidade do serviço, conhecida apenas de quem utiliza do transporte em cada cidade.

O sistema do Rio de Janeiro piorou muito após a padronização. As empresas, por entender que as frotas pertencem a prefeitura (a imposição de pintura deixa isso claro), já não fazem mais a manutenção adequada, que é cara, preferindo apenas "apertar os parafusos" e alimentar com combustível para que os carros rodem. O resto que as prefeituras paguem.

Outras capitais que utilizam a pintura padronizada são campeãs de queixas dos usuários, incluindo o "imaculado" sistema de Curitiba (de onde surgiu a ideia da pintura padronizada, em um longínquo 1974 - enfim uma ideia VELHA vendida como "novidade"), cujos defeitos só são conhecidos por quem mora por lá. Sistemas padronizados agem como cidades interioranas, onde a prefeitura gerencia diretamente o transporte, com grande precariedade. É uma forma de encampação sim, com a diferença de que o sustento financeiro vem da iniciativa privada.

O pessoal de Salvador que se prepare. O transporte, que já não era dos melhores, vai ter uma boa piorada. Com um secretário de transportes de mentalidade arcaica (José Aleluia, um dos políticos mais conservadores da Bahia) e sem o engajamento necessário para administrá-lo, não esperemos melhoras. E a população, acostumada a encontrar um transporte ruim que nunca cumpre o mínimo necessário, vai ficar com a, pior fatia de bolo, sendo a única a perceber que a colocação do nome da prefeitura nos ônibus em nada ajuda a melhorar o transporte, seja de qual cidade for.

EM TEMPO: Houve uma tentativa de padronização pelo que se observa na foto que ilustra esta postagem, com a extinta empresa Sul América. Na verdade, a padronização vem sido ensaiada há uns 10 anos, com a chamada "padronização branca", onde há grande maioria das empresas que dispensam a pintura se limitando a colocar uma logomarca para identificar.  Se isso já atrapalhava, imagine o que virá agora.

Um comentário:

  1. Não bastasse aquela "michaeljequização" visual que homenageava o rei do pop (e também, é claro, da vitiligo)...

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