Não é só Paranapuan, City Rio (rebatizada Viação VG), Rubanil e Pégaso. Nem Vila Real, Vila Isabel ou Madureira Candelária. O sistema de ônibus do Rio de Janeiro, vigente desde 2010, piorou em praticamente todas as empresas, já que consiste numa intervenção estatal, em que a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) passou a comandar com mãos de ferro.
É o mesmo modelo de transporte coletivo adotado em Curitiba no período da ditadura, em que se confunde fiscalizar com mandar, algo comparável à confusão das funções de porteiro com a de síndico em um condomínio.
A respeito de acidentes e ônibus com péssimo estado de conservação, mesmo veículos comprados em poucos meses passam a ter lataria amassada ou até arranhada. No caso da Litoral Rio Transportes, houve veículos da Marcopolo Torino 2007 Volvo, comprados no início de 2014, que em dois meses apresentavam até pára-choque arrancado.
E os acidentes? Desastres dramáticos também envolveram empresas como Real, Tijuca, Alpha e até mesmo empresas como Redentor e Pavunense, que haviam assumido linhas de outras empresas consideradas deficitárias.
Quem está no Centro do Rio de Janeiro não tem dificuldades em verificar ônibus da Real Auto Ônibus circulando como se estivessem sacolejando, o que mostra estrutura interna se soltando. A Real, considerada de "boa qualidade", já sofreu acidente com morte.
As fotos mostram ônibus da Empresa de Transportes Braso Lisboa e Rodoviária A. Matias se envolvendo em acidentes diferentes em 2014. No entanto, os acidentes mostram o quanto há despreparo dos motoristas, trânsito caótico e outros transtornos. A Braso Lisboa e a Matias já apresentam em sua frota ônibus com lataria amassada e estrutura interna quase solta (que faz os ônibus rodarem "sacolejantes"), além de adotar a dupla função do motorista-cobrador, o que é um grave risco para o conforto e segurança dos passageiros.
VERDUN TEM CARRO COM DUAS PLACAS DIFERENTES
A Viação Verdun é, como a Transportes Paranapuan, a empresa do consórcio Internorte que apresenta frota sucateada. Em muitos aspectos, está até pior do que a Paranapuan, porque esta, pelo menos, conta com carros mais antigos, enquanto que a Verdun, mesmo em veículos considerados relativamente novos, chegam a ver lataria amassada, estrutura se soltando e até arranhões.
As irregularidades da Verdun são pouco alardeadas, mas, como se observa nas duas fotos registradas por um leitor do jornal Extra, Cláudio Henrique do Nascimento, que com seu smartphone fotografou a dianteira do carro B71001. Pasmo, o leitor verificou que o mesmo carro mostrava placas de registro do Detran diferentes. O Internorte alegou que era por causa da substituição de pára-choques durante uma manutenção, em que se retirou o objeto de um outro veículo.
Mesmo assim, lapsos como este mostram o quanto há problemas de manutenção nos ônibus cariocas, na falta de autonomia das empresas por causa dos consórcios, e da pintura padronizada que é a imagem do poder centralizado da SMTR, com a figura do secretário de Transportes, em vez de atuar no papel de fiscalizador, banca o dublê de administrador das empresas de ônibus.
Isso cria uma crise de representatividade, dentro de um padrão de serviço de ônibus mais burocratizado e sem qualquer eficiência e muito menos transparência. A pintura padronizada simboliza a imagem da Prefeitura, sendo que as empresas de ônibus estão proibidas de exibir sua identidade visual. O passageiro acaba prejudicado com isso, porque fica mais confuso e tem que redobrar a atenção na hora de pegar um ônibus.
A formação de consórcios também acaba juntando interesses empresariais conflituosos, como os enfrentados pela Paranapuan, e disputas vorazes de zonas de bairros, soando mais como um balaio de gatos raivosos. Com politicagem, brigas, falta de transparência, falta de identidade visual, dupla função do motorista-cobrador, só tudo isso para o sistema de ônibus do Rio de Janeiro se mostrar o lixo que está.
Se antes de 2010 a coisa não era perfeita, pelo menos não haviam esses defeitos que vieram depois que o Secretário Municipal de Transportes passou a ser o "rei da cocada preta". Pegar ônibus no Rio de Janeiro virou uma aventura, para não dizer uma tragédia.