Empresas com pintura padronizada "puxam" toda a lógica politiqueira desse modelo de sistema de ônibus. Uma lógica de uma administração militarizada das secretarias de transporte, aliadas a uma rotina opressiva de motoristas e cobradores (e, sobretudo, de motoristas-cobradores), e de uma visão tecnocrática de mobilidade urbana que hoje se encontra em crise.
Isso favorece também a corrupção dos bastidores. Afinal, sob o manto das diferentes empresas de ônibus que exibem a mesma pintura - e de mesmas empresas de ônibus com frotas "rachadas" em diferentes visuais conforme a região de bairros, de municípios e o tipo de ônibus adotados - , a corrupção rola solta, não somente entre empresários, mas também nos sindicatos.
Há tempos esse sistema de ônibus existe em São Paulo e foi implantado pela ditadura militar pelo então prefeito paulistano Olavo Setúbal, hoje falecido, também poderoso banqueiro, dono do Itaú e, como político, era ligado ao hoje tucano Paulo Egydio Martins, também ex-prefeito paulistano e que havia sido ex-presidente da UNE durante o breve período de comando udenista na entidade, nos anos 50.
O sistema paulistano, que inspirou diretamente o carioca - implantado em 2010 - , já amarga uma longa crise na qual tecnocratas, na prática, tentam arrumar soluções que não precisem resolver o problema (afinal, o sistema em si é que é o problema). Só agora surge uma corrente que começa a pensar em liquidar esse sistema, também inspirado no padrão que Jaime Lerner lançou em Curitiba, também durante a ditadura militar.
Pois o esquema se caraterizou pela extinção de uma estatal, a histórica CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) e na substituição da mesma por uma paraestatal (SPTrans) que "engoliu" as empresas particulares que passaram a usar uma pintura padronizada, a princípio sob critério de zonas, depois sob o critério de consórcios.
Isso permitiu a corrupção que acontece nas empresas de ônibus que, de tão mascaradas, fazem com que até mesmo a mídia televisiva não consiga identificar qual empresa envolvida em um incidente, por exemplo. Tudo fica sendo "SPTrans". Mas, do lado de jornalistas sérios como Adamo Bazani, da rádio CBN, a ocorrência de corrupção não é segredo algum.
Há tempos Bazani alerta para a corrupção que existe nas empresas de ônibus do Consórcio Leste, que serve a Zona Leste paulistana. Ela equivale mais ou menos ao consórcio Internorte carioca, no sentido de servir a uma região suburbana de porte médio, e o histórico de corrupção que permite manipulações ligadas à personalidade jurídica das empresas.
Não bastando isso, a corrupção sindical, em São Paulo, envolve um histórico que inclui até mesmo assassinatos. Algo que, no Rio de Janeiro, já ocorre com o sistema de vans. A pintura padronizada esconde a personalidade jurídica, criando, nos passageiros, um "véu" para as irregularidades cometidas por empresários, rodoviários e autoridades, ou até mesmo tecnocratas.
Não vamos detalhar aqui o caso de Jaime Lerner, o suposto "progressista" da mobilidade urbana, academicamente ligado ao ex-ministro da ditadura Flávio Suplicy de Lacerda (que tentou destruir o movimento estudantil), mas de fato ele foi um político reacionário dedicado a desmontar os serviços públicos com uma fúria privatista que ignorava necessidades trabalhistas e restrições legais.
Portanto, a greve que ocorre hoje em São Paulo, deixando os passageiros "na mão", é fruto da corrupção que ocorre até mesmo nos sindicatos dos rodoviários. E toda essa roubalheira é protegida pela pintura padronizada que veta as identidades das empresas de ônibus.
E essa roubalheira ocorre de tal forma que nenhum nome ou logotipo de empresa em tamanho minúsculo colocado na lataria, nos letreiros digitais ou nas janelas irá tornar o serviço de ônibus mais transparente. Porque a máscara continua, a permitir a corrupção às costas do povo.
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