sábado, 19 de setembro de 2015

MUDANÇA NAS LINHAS DA ZONA SUL NÃO RESOLVERÁ VIOLÊNCIA NAS RUAS E PRAIAS

Limitar o acesso da população da Zona Norte para as praias da Zona Sul, através do fim das linhas diretas entre as duas zonas e com o paliativo da praia artificial do entorno de Madureira, não irá resolver o problema da violência nas ruas e praias de bairros como Copacabana, Ipanema e Leblon.

Hoje houve vários arrastões em Ipanema, além de um incidente em um ônibus da linha 476 Méier / Leblon, em que menores derrubaram as janelas e depois foram detidos pela polícia. Vinte ladrões saquearam uma loja, assaltaram os vendedores e depois renderam uma pedestre e levaram vários objetos de valor, no Humaitá.

O esquema de linhas, que restringirá os trajetos de linhas da Zona Norte para a Zona Sul, hoje ainda em circulação, para os já tumultuados pontos de ônibus da Candelária, sobrecarregando não só a área como também a Central, outro terminal de embarque para a Zona Sul, representará uma incômoda baldeação para BRTs superlotados, o que desestimulará a população da Zona Norte, geralmente portando objetos como boias, toalhas e até mesmo marmita - que valeu a essas pessoas o rótulo de "farofeiros" - a se deslocarem de ônibus para essas praias.

Só que a dificuldade a ser imposta a partir de outubro, quando haverá a redução gradual de trajetos de ônibus, que já afetará linhas principais - 455, 474 e 484 encerrarão seu percurso na Av. Pres. Vargas, junto à famosa igreja - , nem de longe afastará a violência que as elites da Zona Sul atribuem, com generalizado preconceito, às populações pobres que frequentam as areias das praias.

Em primeiro lugar, porque os vândalos e bandidos não se sentem preocupados em fazer baldeação por ônibus e ir para as praias cometer seus habituais crimes. Eles, que furtam ou roubam carteiras e dinheiro com muita naturalidade, não sentem medo em cometer assaltos ou furtos, e saltar em qualquer ponto e arrecadar o que podem para pegar outros ônibus para chegarem às praias. Eles já estão acostumados com muito mais baldeações do que as previstas para o próximo mês.

Em segundo lugar, porque duas grandes favelas já existem, entre tantas outras na Zona Sul, como o Pavão-Pavãozinho e a Rocinha. Quanto a esta favela, situada em São Conrado, seu cenário chega a assustar pela alta presença de construções degradadas que a exclusão imobiliária empurrou para muitos pobres cariocas. E é um dos cenários de maior ocorrência de violência, com episódios trágicos que ocuparam os noticiários nacionais.

Além disso, até mesmo para pessoas de bem a baldeação nas linhas causará revolta, porque embarcar no segundo ônibus quase nunca garante a comodidade e o conforto de quem vem do primeiro ônibus. Com isso, o morador do Méier, Usina, Olaria e Jacaré que pegar sentado o ônibus para a Candelária, dificilmente irá sentado para o ônibus BRT da Candelária para a Zona Sul.

Com isso, mesmo a revolta, associada à baixa escolaridade, poderá complicar ainda mais as coisas, pois alguns pobres, proibidos de serem cariocas dentro da própria cidade do Rio de Janeiro, poderão reagir com vandalismo diante de tão grande restrição. São casos raros - a maioria dos pobres é gente de bem - , mas podem gerar sérios danos contra o bem público.

O atual sistema de ônibus do Rio de Janeiro é, por sua própria natureza, desprovido de funcionalidade e complicado em seus aspectos e medidas. As autoridades prometem descomplicar, mas como é que elas poderão fazer isso se elas mesmas é que impõem essas complicações? Descomplicar o complicado é bem mais complicado, quando a complicação faz parte do processo. 

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