COMENTÁRIO DESTE BLOGUE: Eu mandei mensagem para o sítio Caos Carioca, que fala dos problemas da cidade do Rio de Janeiro, e descrevi as desvantagens da pintura padronizada nos ônibus. A carta, até o momento desta edição, não foi publicada (o blogue faz moderação para comentários e acabei de enviá-lo para Jan, seu responsável), mas vale aqui publicá-la com exclusividade para este blogue.
Assunto: Questionando a "pintura única" dos ônibus do RJ
Prezado Jan,
O que eu quero escrever se baseia nos recentes episódios envolvendo o sistema de ônibus do Rio de Janeiro, primeiro pela onda de acidentes, tragédias e veículos enguiçados que tomaram conta da cidade, segundo pela mobilização popular que culminou no lançamento da CPI dos Ônibus na Cidade Maravilhosa.
Quero questionar aqui uma medida que ainda não é bem compreendida pela maioria da população, que é a da pintura padronizada (às vezes chamada de "pintura única") nos ônibus. Medida que é reprovada explicitamente por conceituados especialistas de mobilidade urbana, do nível de um Fernando MacDowell, experiente no ramo.
A medida é tida como "disciplinadora" e "organizadora" do sistema de ônibus, mas demonstra-se bastante caduca e decadente para ser vista como "novidade" na mobilidade urbana e no transporte coletivo. Consiste em adotar uma pintura padrão, caraterística do município ou da região de cidades correspondente, colocando diferentes empresas de ônibus para ter o mesmo visual.
A padronização visual dessas empresas, embora seja feita sob o pretexto da disciplina, demonstrou o contrário. A prometida "transparência" não pode ser vista numa medida dessas que, imposta em processos de licitação, praticamente esconde do cidadão comum as empresas vencedoras da licitação.
Este é o problema. Antes as empresas de ônibus não eram licitadas, mas cada uma mostrava a sua identidade visual própria, dando aos passageiros a certeza de qual empresa serve uma linha e como é o seu serviço. Hoje é o contrário, existe uma "licitação" que esconde as empresas do público. Que transparência é essa? Nenhuma, na verdade.
A prefeitura do Rio de Janeiro quer impor sua imagem e sua logomarca nas empresas de ônibus. Isso é ilegal, pois o sistema de ônibus é operado por empresas particulares, não é mais uma CTC a explorar pelo menos boa parte das linhas. E o regime é de concessão de linhas de ônibus, e com a pintura padronizada a prefeitura impõe sua imagem nas frotas, como se na prática a prefeitura concedesse as linhas mas "levasse" para si as frotas de ônibus.
Quem anda pelas ruas cariocas sabe que não existe qualquer tipo de vantagem, seja de ordem técnica, seja de qualquer outra natureza, que justifique que uma Real Auto Ônibus tenha a mesma pintura de uma Auto Viação Tijuca, por exemplo. Ou que uma Caprichosa Auto Ônibus, Transportes Estrela e Viação Redentor agora tenham o mesmo visual. E com toda a certeza o cidadão comum, o mais interessado no caso, é justamente o maior prejudicado.
Nesses três anos desse verdadeiro "baile de máscaras" do sistema de ônibus carioca, uma verdadeira farra com a boa-fé do cidadão, o que se viu foi um grande esquema de corrupção, em que os ônibus aparecem pintadinhos com a estampa "embalagem de remédio" da prefeitura do Rio, mas cuja documentação aponta irregularidades ou está vencida.
Além disso, houve casos de linhas de ônibus mudando de empresa e empresa mudando de nome e o povo carioca, aquele que pouco se cuida com a diferença entre um D53509 e um D58609 - sobretudo pela correria do dia-a-dia que faz até muito busólogo espertalhão pegar ônibus errados - , é o último a saber.
Muitas empresas ruins de ônibus se beneficiam com essa "maravilhosa" pintura padronizada porque podem ter a mesma pintura das empresas boas. O critério não é mais a empresa, mas o trajeto, tipo de ônibus etc. E é coincidência demais que, no Brasil, os primeiros casos de CPI dos Ônibus venham de cidades onde os ônibus se camuflam com uma mesma pintura para diferentes empresas: Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo e Niterói.
Em Brasília, a coisa é tão séria que existe empresa pirata que circula tranquilamente pelas ruas da capital federal com a mesma pintura padronizada dos ônibus "licitados". O que prova que essa medida, do contrário que se prega por aí, não traz qualquer tipo de transparência. Ela confunde os passageiros e favorece a corrupção político-empresarial. Deve vir aí CPI dos Ônibus nessa cidade, mas até o momento não tive notícia.
O que quero com isso é chamar a atenção para esse grave problema. Afinal, não serão 20 centavos nem ônibus de configuração avançada (articulados, com ar condicionado, com chassis de marcas suecas) que irão justificar essa pintura padronizada. Até porque cidades como Florianópolis têm esses ônibus e cada empresa exibe sua identidade visual própria. E olha que lá havia tido pintura padronizada, que foi corajosamente abolida na capital catarinense.
Tenho um blogue a respeito do assunto, MOVIMENTO PINTURA LIVRE (o título pede para que se libere a pintura própria de cada empresa de ônibus), cujo endereço é http://movimentopinturalivre.blogspot.com.br/ e que tem também comunidade no Facebook e hashtag no Twitter, cujos acessos estão no próprio blogue. Peço para você divulgar esse blogue para mais pessoas.
A pintura padronizada não traz transparência. Ninguém se beneficia com mascaramentos. Haver diferentes empresas de ônibus com a mesma pintura nada tem de vantajoso. Só confunde e mascara todo o sistema de ônibus. Defender isso é defender uma coisa que hoje está caduca, decadente, por mais que insista em manter o rótulo falso de "novidade".
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