domingo, 18 de janeiro de 2015

VIOLÊNCIA NAS PRAIAS REACENDEU ELITISMO CONTRA LIGAÇÃO ZONA NORTE x ZONA SUL


Depois do arrastão ocorrido em Ipanema, na semana passada, reacendeu a paranoia elitista que pedia a redução, para não dizer a extinção, da ligação direta por ônibus entre as zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro.

Mesmo a colunista social Hildegarde Angel esqueceu sua recente tendência progressista e havia sugerido a redução de ônibus entre as duas zonas, como forma de conter a ação de bandidos nas areias das praias.

A ligação direta Zona Norte e Zona Sul já é alvo não só do preconceito elitista, mas também da obsessão de tecnocratas do transporte coletivo, num tempo em que o sistema de ônibus carioca é dominado por medidas antipopulares (como a pintura padronizada nos ônibus), de forçar a baldeação extinguindo linhas diretas.

A ligação já é precária, não cobrindo as demandas que existem em bairros da Zona Norte para os bairros de Copacabana, Ipanema e Leblon. A ligação Madureira X Zona Sul, por exemplo, havia sido precária, restrita à linha 465 (antiga 755), que ligava Cascadura ao Baixo Gávea, mas ela foi extinta para forçar a baldeação do Bilhete Único.

Nos anos 70 havia a antiga 457 (Vila Valqueire / Copacabana), que passava por Madureira e Cascadura e que não tem relação com a atual 457, que na Zona Norte se limita ao bairro da Abolição, próximo a Pilares.


Outro destaque foi a histórica linha 442 Lins / Urca, que surgiu com o código 106 e chegou a ser operada por antigos papa-filas - ônibus longuíssimos com cabine de caminhão - da Fábrica Nacional de Motores, nos anos 1950.

Apesar de ser uma linha funcional e com percurso levemente diferente ao da 232 Lins / Praça 15 (mesmo indo para a mesma praça, passava pela Tijuca e não por Vila Isabel, percorrida pela 232), a linha foi extinta por uma ação de moradores da Urca, que não aguentavam a presença de populares no bairro.

EXTINÇÃO DE RAMAIS ZONA NORTE X ZONA SUL SÓ VAI PIORAR O PROBLEMA

A suposta solução de extinguir as ligações da Zona Norte a Zona Sul, por linhas diretas de ônibus, não traz qualquer tipo de vantagem e, em vez de resolver a situação, acaba trazendo pioras e prejudicando até as linhas que vão do Centro à Zona Sul.

Afinal, com a baldeação dos ramais Zona Norte X Centro ou Zona Norte X Troncal para Centro X Zona Sul e Troncal X Zona Sul (ou mesmo Troncal X Centro, via Zona Sul), o medo da presença de vândalos e bandidos nos ônibus se transfere das linhas diretas para os roteiros de baldeação.

Os vândalos e bandidos nem estão aí para baldeação. Eles vão dos ônibus da Zona Norte para a Central, por exemplo, ou para o Terminal Alvorada, em bandos e, se puderem, entram até pelas janelas ou pulam roletas e tudo. Para eles, tanto faz pegar um ou dois ônibus, não lhes faz diferença.

Com isso, a insegurança que se tem em linhas como 455 Méier / Copacabana, 474 Jacaré / Jardim de Alah e 484 Olaria / Copacabana, se transferiria inevitavelmente para as linhas 121 Central / Copacabana, 127 Rodoviária / Copacabana e 128 Rodoviária / Leblon, só para citar alguns casos.

É bom deixar claro que um dos mais trágicos incidentes envolvendo assaltos a ônibus ocorreu na antiga 174 Central / Gávea (depois 158 e hoje 143), em 2000, quando um ladrão sequestrou uma jovem e, numa ação precipitada pela polícia, sequestrador e refém foram mortos. O caso ganhou destaque nos noticiários do Brasil e do mundo e virou até documentário.

Além disso, a extinção de várias linhas diretas entre Zona Norte e Zona Sul revela um grande preconceito social e prejudica quem realmente precisa dessas linhas. Ou seja, em nome de uma "higiene social", se prejudica a verdadeira mobilidade urbana, forçando uma baldeação que, não raro, resulta em atrasos constantes no trabalho, com risco para demissão.

Portanto, é preciso valorizar, e não desvalorizar, a ligação direta por ônibus entre as zonas Norte e Sul. O povo dos subúrbios não pode ser visto como um bando de arruaceiros e ladrões. Isso é preconceito e pode expressar até mesmo crime de racismo.

Convém defendermos, isso sim, a Educação e o atendimento às populações carentes, para que, educando e fortalecendo a auto-estima e a cidadania nas classes populares, se previna ações de desordem ocorridas nas praias, nas ruas e nos ônibus. Extinguir as linhas diretas entre Zona Norte e Zona Sul só trazem desconforto e transferem a insegurança para as linhas de baldeação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.