terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

TRANSPORTE COLETIVO: AUTORIDADES VEEM POVO COMO UMA MULTIDÃO DE JOGOS ELETRÔNICOS


A indiferença dos governantes, que decidiram, a partir do exemplo do autoritário Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro que governa como se fosse um velho mandatário da República Velha (a exemplo de seus pares, como Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão), ao interesse público, é algo que seus demagógicos discursos não conseguem desmentir.

A impressão que se tem é que eles tratam a multidão como se fosse o povo virtual de jogos eletrônicos como The Sims, e eles, no isolamento de seus escritórios e no egoísmo de seus interesses em obter privilégios, implantaram um modelo de transporte coletivo demodê e mais próximo dos tempos do general Emílio Garrastazu Médici.

A pintura padronizada nos ônibus e a redução de percursos ou de frotas de ônibus em circulação, sob o pretexto da falsa amplitude e da fantasiosa velocidade dos BRTs, tornaram-se medidas maléficas que estão sacrificando a população sem que as autoridades resolvessem realmente o problema.

Pelo contrário, mesmo com todos os desastres, transtornos e tragédias consequentes destas e de outras medidas autoritárias - no Rio de Janeiro já começa a pesar, por exemplo, o fim da funcional linha 952 Penha / Praça Seca e da tradicional 676 Méier / Penha, contribuindo para superlotar BRTs com o paliativo de "linhas alimentadoras" - , a indiferença das autoridades continua.

INUTILIDADE - DESTACAR NOME DE EMPRESA EM PINTURA PADRONIZADA DE ÔNIBUS É COMO BOTAR FITINHA NA LAPELA DE UNIFORME MILITAR, SEM TRAZER QUALQUER TIPO DE SOLUÇÃO PRÁTICA.

O caso da pintura padronizada é ilustrativo. Em alguns casos, as autoridades permitiram a exibição, com relativo destaque, de logotipos de empresas em latarias, janelas ou letreiros digitais nos ônibus que exibiam a mesma pintura padronizada.

Segundo as autoridades, era uma maneira de "facilitar" (sic) a identificação de cada empresa de ônibus, e de "garantir" (sic novamente) a "transparência" (mais sic) do sistema de ônibus de cada cidade ou região metropolitana.

Só que isso, na prática, fica em vão. Um nome de empresa que se perde numa janela ao lado de logotipos que variam da placa indicativa do bilhete único, da vistoria ecológica, do preço da tarifa e, se deixarem, de adesivos de evocação religiosa ou de marca de pneus ou combustíveis, não contribui em coisa alguma para o passageiro comum diferir uma empresa de outra.

É como colocar uma fitinha de cor diferente na lapela de cada pessoa com uniforme militar. Uma coisa é vestir uma roupa diferente, de fácil reconhecimento pelo traje. Outra é usar todo mundo um só uniforme e variar debilmente pela cor da fitinha ou de outro adereço colocado na lapela.

Outro aspecto negativo é a mutilação de linhas por causa do BRT, achando que o BRT é um "coração de mãe" onde cabe todo mundo. Não é. Mesmo os bi-articulados possuem limites de lotação, a ideia de que se pode diminuir itinerários de linhas a esmo porque o BRT vai cobrir toda a demanda é falso.

Em muitos casos, grandes quantidades de linhas são extintas ou mutiladas e suas grandes demandas, repassadas para os BRTs, provocam seu inchamento, e as autoridades não se dão conta de financiar os aumentos de frotas por causa do custo altíssimo - terão que pedir empréstimos que depois se convertem em sérias dívidas financeiras - para evitar a superlotação.

Esses são apenas exemplos de problemas trazidos de modelos de transporte coletivo retrógrados, que autoridades fizeram visando um modelo de transporte que queriam exibir para a Copa do Mundo, e que agora, sem qualquer razão para manter, ainda tentam ampliar e perpetuar seus valores e conceitos ultrapassados, em claro desprezo à população que acreditam apoiar seus piores arbítrios.

E aí, o que vemos? Notícias cada vez mais desastrosas e trágicas sobre esse modelo de sistema de ônibus. E as autoridades querendo resolver o problema da única maneira que entendem: sem eliminar o problema.

O sistema implantado a partir de 2010 no Rio de Janeiro e que espalhou como epidemia até em cidades como Recife e Florianópolis, se desgasta completamente como um queijo apodrecendo dentro da geladeira, e que terá como custo o próprio desgaste político de autoridades e tecnocratas, sem excluir o "renomado" Jaime Lerner, na verdade um filhote da ditadura militar.

O pior ainda vai acontecer, porque o grande mal não é suas medidas serem mal ou ao menos insuficientemente implantadas, mas porque esse sistema é retrógrado em sua própria natureza. A "curitibanização" ampliada pelo projeto de Eduardo Paes revela-se um modelo obsoleto, cuja perpetuação gerará mais prejuízos para a população.